Existe um termo para se referir a um jornalista em início de carreira: foca. Sim, o animal, mamífero marinho.
Acho que o nome se dá porque, no desejo de se tornar útil, o repórter no início de carreira faz tudo: bate palma, grita e empina uma bola no fuço, ao mesmo tempo.
O início da minha carreira era muito caótico. Como uma boa estagiária, queria aprender rápido para deixar de ser foca e virar repórter logo!
Eu tinha poucas horas de estágio e elas se passavam assim: ligar para todas as delegacias de Manaus, Corpo de Bombeiros, Detran e Polícia Federal atrás de notícia urgente que desse tempo de entrar no telejornal.
E ao mesmo tempo: comprar lanche para a minha chefe, levar a maquiagem pra apresentadora, correr com fitas para edição, pedir fotos no jornal e… fazer o café da redação inteira durante o período que eu estivesse lá.
Em um dia aparentemente normal, com pessoas gritando: MARIANA, CADÊ A NOTÍCIA? e O BLUSH, TRAZ O BLUSH! e ainda NÃO ESQUECE QUE MEU PÃO É INTEGRAL e constantemente sendo perguntada AINDA NÃO TEM CAFÉ? liguei a cafeteira e esqueci de colocar água e café.
Quase queimo a redação.
Quem me salvou foi outro jornalista, mais experiente que eu. Em vez de gritar comigo, foi atrás do café e viu o que tinha acontecido. Desligou a cafeteira, esperou esfriar, fez o café e me avisou. E nunca contou pra ninguém o que aconteceu.
Isso já fazem mais de 10 anos, o mesmo período que dizem que o jornalista precisa ter de carreira para deixar de ser, finalmente, foca. E eu nunca esqueci.
Depois desse dia, pisei na bola várias outras vezes, em níveis diferentes de cagada. Mas fui aprendendo com elas.
Também decidi ser como aquele colega: em vez de me juntar a quem grita no meio da confusão, prefiro ajudar quem está começando.
Então, se recentemente você quase deixou “queimar o café”, paciência, o mundo não vai acabar, eu juro.
Depois dessa vez, nunca mais deixei de verificar a quantidade de água e de pó antes de ligar a cafeteira na tomada, nenhumazinha sequer, vai acontecer o mesmo com você, acredite.
Mas não se esquece de que sempre teremos algo pra aprender, faz parte. Um dia é você, outro dia sou eu.
E também de que é sempre possível ajudar, além de ser a melhor escolha — pra mim é, pelo menos.