Fui ao cinema em plena segunda-feira à noite porque queria ver Vidas Passadas.
Não se preocupe, não darei spoilers aqui. Nem se quisesse, seria boa em críticas de filmes.
Sinceramente, não gosto do cinema que fui, mas ele é perto de casa e conseguiria ir durante a semana. Fui sem ler a sinopse, mais interessada pela fotografia do poster de divulgação.
Chegamos 2 minutos antes de começar os comerciais e os traillers. Eu tava com fome e pedi coca e pipoca – coisa que normalmente não faço.
Há pouco tempo, descobri que gosto de filmes que me incomodam. Gosto de revirar na cadeira pra tentar ficar confortável com a história, tomar refrigerante em goles pesados pra ver se desce o desconforto.
É horrível.
Penso em ver as horas no celular, penso que não deveria pensar nisso. Volto a focar na tela e a sentir cada pausa, enxergar a poça de chuva. Entendo olhares, reconheço mensagens, sinto as ansiedades, as vergonhas e as dores.
É horrível, mas eu gosto. Acontece.
Meses atrás, quando voltei a trabalhar, a coisa que mais temia era não me emocionar mais. Tinha medo de me deixar voltar a vida chata e anestesiada que levava em busca de uma grande animação, um drama bem feito e de preferência com spoilers pra eu não ficar ansiosa.
Mas quando os créditos subiram e fiquei alguns minutos sem conseguir falar, percebi que aquilo me doia e me fazia sentir frustrada, feliz, triste, animada, nostálgica… tudo ao mesmo tempo.
Assimilar o filme me trouxe lutos de relacionamentos, de fins de amizades, de épocas da vida e de vários "Eu" que já existiram nesse mundo, mas ficaram por aí. Tudo em um grande bolo de lembranças que ainda não tive tempo de lembrar, mas estão jogadas em alguma parte do meu grande depósito chamado cérebro.
Você sabe o que estou tentando dizer, né? Torço pelo sim.
Em casa, abri uma cerveja na tentativa de me ajudar a digerir, sofrer ou comemorar.
Ser capaz de sentir e se emocionar a cada cena de um filme, em um cinema ruim, numa segunda à noite é o meu maior orgulho do momento. Graças a mim ainda sou um tanto eu.
Momentos decisivos vão acontecer sem que eu perceba. Esse filme e tantas outras coisas já me mostraram isso.
Algumas vezes, abrirei uma cerveja pra engolir. Mas outras vezes, pra comemorar.
Desejo o mesmo para você porque é sinal que, mesmo com nossos dias caóticos, estamos atentos e ainda sentimos… muito.
Ainda bem.
Talvez eu faça a digestão e volte a falar desse filme aqui. Talvez eu decida só sentir. Quem sabe?