Estava passeando com o meu cachorro quando dei de cara com o meu passado, ou melhor, com a lembrança dele.
Íamos subindo a rua sem pressa, quando uma bola de handball passou pelo muro da área social de um prédio. Não tinha ninguém além de mim e Gil na rua, e o único barulho que se ouvia era dos meninos brincando e decidindo quem seria a pessoa a sair pra buscar a bola lá fora.
Era uma zoação sem fim. Quando o eleito saiu para buscar a bola entendi o porquê: ele estava sem camisa.
Aqui, com meus 34 anos, era mais uma cena normal. Mas pro garoto que tinha uns 13 anos, não. Era uma exposição sem tamanho, alguma menina poderia ver sua falta de músculos ou coisa assim. Coisas que adolescentes se preocupam.
Lembrei da minha infância e adolescência. Eu tinha um grupo de amigas no bairro e encontrávamos sempre uma na casa da outra.
A gente queria ser famosa, a nova Chiquitita, uma atriz revelação, top model ou qualquer coisa que nos tornasse mais próximas do nosso maior sonho: namorar com o Nick Carter. Ou com o Leonardo di Caprio. Ou com o ator da Malhação do momento. Ou com um dos Hanson.
Ser notada por qualquer garoto da escola era tão ou mais absurdo que esperar pelos citados acima. Éramos magrelas, umas nerds demais outras que bombavam nas notas, não tinhamos roupas chiques nem sabíamos andar de salto alto. O que um garoto ia ver na gente?
Continuei o passeio do Gil. E alguns quarteirões depois, tinha um casal. Eles tinham uns 16 anos e parecia que o rapaz estava deixando a moça no prédio dela.
Claramente não queriam se largar, clássica primeira paixão. Os olhos não se desgrudam, as mãos não sabem pra onde ir, a respiração fica curta, mas ainda assim precisam estar perto.
Sorri.
Na minha época, não foi diferente. Não sabia o que fazer e achava que cada ação minha era importante demais porque aquilo seria pra sempre.
Isso tudo me fez pensar em como me verei daqui a 15 anos. O que hoje dou muito foco e no futuro vai ser mais uma cena normal? O que hoje acho que é para sempre e depois vou ver que não era nada disso?
Pensar nisso me faz ver a vida mais leve. Tem pelo menos alguma coisa que hoje me preocupa muito e me fará sorrir daqui 5, 10, 30 ou 50 anos. Qual delas deve ser?
Não faço ideia. Parando pra pensar não me vem nada em mente, mas essa deve ser graça do passar dos anos.