Quando me mudei pra São Paulo, uma pessoa que também não era daqui me disse: Você já percebeu que as pessoas não tem o hábito de olhar pro céu? eu não tinha percebido, mas era verdade.
As pessoas que eu tinha contato ou que via na rua, olhavam pra cima ou pro horizonte com funções práticas: vai chover? está chovendo? minha rinite atacou porque está mais poluído hoje? etc.
Com o tempo, cai nessa armadilha e também comecei a usar o céu pra confirmar atividades, sem esquecer o que essa amiga me disse 10 anos atrás.
A primeira pessoa que eu ouvi falar sobre voltar a olhar pro céu foi uma escritora chamada Liliane Prata. Lili dizia que quando tava em um período pouco criativo e precisava descansar, deitava no chão do quarto e ficava olhando o céu pela janela, por horas. E que isso a ajudava.
No sabático, decidi testar.
Da minha cama mesmo, olhava pela janela. Lembrei que quando criança, gostava de deitar no pátio de casa e ficar imaginando as criaturas que as nuvens formavam. E que tipo de história aquelas criaturas queriam me contar naquele dia.
Não consegui ver nada disso de novo. Então, só deixava o tempo passar.
Há um pouco mais de um mês, no dia do meu aniversário e depois de ter dado voltas em bares e rolês aleatórios, paramos num banco de frente pro mar. E lá, sem pretenção nenhuma, as nuvens voltaram a ter formas, contar histórias e serem divertidas.
Eu estava curada da chatice de ver o céu como um adulto.
Há algumas semanas, acordo cedo, coloco uma cadeira na varanda e observo. Como é verão, o céu de São Paulo amanhece em um azul claro belíssimo, com poucas nuvens e as que tem, parece que é uma pintura em aquarela, sabe?
O sol bate nos prédios deixando-os com um bronzeado engraçado e bonito. Consigo ver os detalhes que tentaram esconder com tinta, mas que agora dão sombra. E tenho vontade de mostrar isso pra todo mundo ao mesmo tempo que não quero me mexer dali.
Olhar de um jeito diferente e mais amoroso pro céu, pro prédio, pra gente mesmo e pros outros é possível. Talvez tenhamos só que praticar mais ou entender que é preciso tempo pra voltar a ser como era antes.
Que não nos falte vontade de voltar a ver tudo com mais leveza nos próximos meses.
Um bom 2024 pra você.
Isso me lembra uma trend que vi sobre como vemos beleza quando estamos viajando para outros lugares, mas onde moramos ficamos sufocados na rotina e não vemos as coisas mais simples e belas. A Trend era "Olhe sempre com olhos de turista, que vê beleza onde a maioria vê rotina". Muitas vezes me policio para que eu possa contemplar as coisas. Ver com outros olhos e, agora, vou olhar para cima.