Tem uma frase do Fernando Pessoa grudada na parede do meu escritório que diz: “Benditos sejam os instantes”. Eu não sei qual contexto ele estava quando escreveu isso, mas tenho pensado parecido.
Daqui, dos meus últimos dias, os meses perderam os nomes e os dias os números. Não sei onde estou e honestamente nem me interesso muito em saber. Os instantes, esses novos anônimos, tem sido mais interessantes.
Nesse novo espaço-tempo que criei pra mim, coube de eu descobrir uma série de coisas que me interessam. E elas vão, literalmente, do Japão a Mozart.
Com o tic-tac diferente, abri espaço para curiosidades que nem sabia que tinha. E assim, sei que as casas do Japão só podem ter 27 anos — depois disso, é preciso destruir ou reformar — e que o maior lutador de sumô de todos os tempos não é japonês, apesar de obedecer fielmente a cultura japonesa como se fosse sua.
Também sei que é falta de educação pegar as coisas com uma mão só na Coreia do Sul e que lá é possível sair do hospital para dar uma voltinha na rua se você estiver internado (e conseguir andar, claro).
Enquanto aprendo essas coisas, estudar sobre assuntos “profissionais” está fora do foco. A utilidade dos meus aprendizados mudou de rumo e estou feliz com eles.
A gente começa a abrir os olhos pra outras coisas, novas e velhas.
Música clássica, por exemplo, que antes eram tocadas pra me concentrar em um texto ou numa entrega do trabalho, virou mero prazer. Escuto pra dirigir, pra cozinhar e só pra ouvir mesmo (até agora, gosto mais das peças de piano!)
Conversar com as pessoas virou mais prazeroso. As velhinhas que encontro na rua do bairro estão cada vez mais sorridentes. Tenho comprado livros ótimos que escolho pela capa. E assistido bons filmes que alguém me indicou sem muita pretensão.
O ritmo mudou. E embora sei que isso tudo pode ser apenas mais uma fase dessa vida, hoje sou mais uma pessoa a defender o momento presente.
E que seja sempre bendito os instantes!