Nós dois, eu e você, podemos ser próximos, podemos nos seguir nas redes sociais, podemos nos falar no WhatsApp e sair as vezes. Ou não. Caso você esteja na primeira parte, já deve saber que estou de sabático.
Quando entrei nos 20 e poucos e começava insanamente minha carreira como repórter, essa palavra não tava na moda.
Se preparar e passar uns meses focado exclusivamente em se divertir e descansar é algo que chegou com a minha geração burnoutada. Por isso, achei curioso quando meus pais reagiram tão positivamente à notícia enquanto alguns dos meus colegas, não.
Tudo bem, a Mariana de 20 anos também jamais imaginaria que a de 33 iria escolher parar no 'auge’. Mas a de 33 achou uma ótima ideia.
Há tempos, bastante mesmo, tenho percebido que vivo anestesiada. A vida é cheia de picos alegres que me explodem por dentro e de vales que pareço que vou ficar no abismo pra sempre. E no meio disso, na maior parte dos dias, eu vivia anestesiada.
Lá atrás, quando contei na terapia, ouvi que precisava viver pra me sentir viva. O irônico é que eu estava tentando viver. Bolava planos e projetos. Tentei várias coisas. Várias mesmo. Mas depois de um tempo, voltava pro mesmo sentimento frustrante.
Há dois meses, eu acordo sem planos. A maior parte desses dias, abro os olhos no mesmo horário de antes, faço a mesma rotina matinal e só então decido o que vou fazer.
Tem dias que decido sair cedo, pego o carro ou o metrô e passo o dia inteiro fora. Vou a uma livraria, paro pra almoçar no meu restaurante favorito, faço exames, escolho um cinema na hora, tomo café, visito um amigo, volto à noite feliz.
Mas tem os dias que fico de pijama até o meio dia vendo série coreana na Netflix, almoço e jogo videogame a tarde toda. E ainda tem os que leio, durmo e fico na varanda olhando o céu bonito do outono repetidamente.
Desde então, todos os meus dias tem sido muito bons. Ainda há picos alegres — afinal, não é sempre que o dia que começa no Arpoador surfando com pessoas queridas — mas a maré calma é confortável, estável e gostosa de se ter. Todos os dias são bons dias, sem precisar de nada especial.
E eu finalmente entendi a música do Caetano. Hoje, 9 de 10 atores também me emocionam. Séries e filmes me fazem pensar, ligar pra um amigo, pedir um abraço do meu marido no meio do dia. Uma música me faz ficar conversando mais tempo com as pessoas do prédio. E um livro me fez parar pra conversar com um desconhecido na livraria essa semana.
Passei anos correndo atrás da solução, me sentindo frustrada. E esses anos foram importantes pra eu me conhecer ao ponto de entender que o que precisava era “ não fazer nada” — que na verdade é um bocado de coisas, mas isso é um assunto pra outra newsletter.
Agora, vou decidir se ando por ai ou só curto minha companhia. Porque I'm alive e vivo, muito vivo, vivo, vivo.
Espero que você também.
Alive and kicking :)